Brasil não terá Selic estruturalmente baixa até ver choque fiscal positivo, diz Campos Neto
- Cenário Capixaba
- 26 de ago.
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O Brasil ainda não reúne fundamentos para sustentar uma Selic estruturalmente mais baixa, apesar das condições de curto prazo permitirem cortes dos juros, afirma o vice-chairman e diretor global de políticas pública do Nubank e ex-presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
“Hoje, eu não vejo a capacidade do Brasil ter uma taxa de juros muito baixa […]. Para termos juros estruturalmente mais baixos, temos que ter um fiscal estruturalmente diferente”, disse no III Seminário Brasil Hoje, da Esfera Brasil.
Campos Neto destacou que a trajetória da dívida pública continua sendo o principal limitador para uma queda duradoura dos juros. Segundo ele, mesmo em cenários considerados otimistas, com a Selic em 11%, o endividamento bruto deve crescer entre 3,5% e 5% ao ano — patamar elevado em comparação com outros emergentes.
Ele reforçou a necessidade de um “choque fiscal positivo” — ou seja, uma mudança de credibilidade que altere a percepção sobre a sustentabilidade das contas públicas e permita a queda das taxas longas da curva de juros. Tal condição é essencial, segundo o executivo, para que os cortes promovidos pelo BC se propaguem de forma consistente.
“É muito difícil, na história da política monetária, um Banco Central derrubar os juros quando a taxa longa está muito alta”, afirmou.
O vice-chairman do Nubank defendeu ainda a necessidade de repensar o tamanho do Estado brasileiro, que, em sua avaliação, “gasta muito” e não entrega serviços compatíveis com seu peso na economia.
“Nós temos um governo maior que não oferece serviços compatíveis com outros governos desse tamanho, e não só não oferecem esses serviços, como o ritmo de gasto é maior do que os outros”, disse.
Apesar de enxergar espaço para reduções adicionais da Selic no curto prazo, Campos Neto voltou a frisar que sem uma mudança estrutural nas contas públicas, os juros tendem a permanecer elevados.
“Vamos entrar em um período, em breve, que vai ser possível cair os juros um pouco, mas não vai mudar muito estruturalmente a trajetória da dívida”. “Com o estado que elegemos ter, não conseguimos chegar lá”, disse.

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